sábado, 12 de julho de 2008

Casa Vazia, de Kim Ki-Duk



Eu sou daquele tipo que gosta de ler tudo sobre um filme antes de assisti-lo. Já tinha ouvido falar sobre o cineasta sul-coreano Kim Ki-duk, adorado no circuito de cinema de arte, mas nunca tinha assistido aos filmes dele.
É bom ter amigos inteligentes e cultos.

"É difícil dizer se o mundo em que vivemos é uma realidade ou um sonho."



E é com extrema delicadeza que esta frase é colocada na forma da história de uma ex-modelo, maltratada pelo marido e que vive enclausurada numa bela casa, chorando pelos cantos em silêncio. Até que um dia ela é surpreendida por um invasor, um rapaz sem moradia fixa, que passa seus dias entrando nas casas de pessoas que estão viajando ou distante. Mas em ao invés de roubar, ele apenas vive a vida dos moradores das casas por alguns dias -- come um pouco da comida deles, posa para fotos ao lado de seus objetos de estimação, etc. Em troca, ele lava a roupa, limpa a casa e faz pequenos consertos domésticos.
Quando se dá conta de que o jovem invasor desconhecido é gentil e nada agressivo, a mulher não o expulsa e acaba partindo com ele, abandonando seu marido violento e carreirista.
A partir daí, seguimos a trajetória desta idealização de um amor perfeito.
Quase não existem diálogos. Durante todo o filme o protagonista não diz uma palavra. Tudo é mostrado e entendido por imagens de uma forma simples e original.
Não há nenhuma imposição do diretor em querer empregar sua marca, muito menos a chatice de “filme que quer ser cult”. Muito pelo contrário, Casa Vazia é uma prova de que cinema é arte feita através de imagens. Que em mãos sensíveis nos faz enxergar a beleza das pequenas coisas como um toque, um olhar, um gesto cotidiano. Nos emociona e trás questionamentos.
Um cinema que nada mais é do que um reflexo de nós mesmos. Que não importa aonde, em qual cultura ou de que maneira, mas sim o que está sendo dito.
As situações do filme são bem originais para não dizer estranhas. Mas estranhas para quem se nos identificamos ao extremo com tudo?
Eu de fato não sei se vivo a realidade ou o que imagino. Ou se o que imagino é a realidade. Ou se a realidade é o que imagino.
O que existe entre como você quer se mostrar, e como eu te enxergo?
Entre como você me vê e o que de fato eu sou?
Eu gostaria um dia poder me ver através dos olhos de outra pessoa.
E nada do que estou escrevendo aqui tem a ver com projeção. Tem a ver como, de fato, as coisas são. Porque muitas vezes nos perdemos tentando encontrar a melhor forma de como parecer. Quantas vezes tentamos camuflar sentimentos e sensações que (por quê?) julgamos que alguém não deveria ver. Fazemos um imenso esforço, mas sempre esquecemos que nos enxergar não depende nem um pouco de nós, mas unicamente do outro.
Atualmente entre querer ser o real ou viver o imaginário eu venho optando por existir!
Assistam.

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1 comentários:

fabio menezes disse...

klap...klap...klapp!!
ADOREI vc escreve muito bem, claro , direto, questionador, íntimo...
tamuJUNTUnessaporraa!
beijo GRANDE

18 de agosto de 2008 às 00:56